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Ransomware: o que é, como funciona e como proteger sua empresa

10 min read Cibersegurança Atualizado 13 Oct 2025
Ransomware: como funciona e como proteger sua empresa
Ransomware: como funciona e como proteger sua empresa

Representação de um ataque de ransomware mostrando arquivos criptografados e tela bloqueada

Introdução

À medida que redes de negócios se tornaram onipresentes, ataques a essas redes por cibercriminosos tornaram-se uma preocupação central. Entre eles, o ransomware se destacou por interromper operações, causar perda de receita e expor dados sensíveis. Embora os incidentes de maior repercussão tenham sido amplamente noticiados em 2017 e mais recentemente em 2021–2022, a realidade é que qualquer organização — desde grandes empresas até pequenas startups e órgãos governamentais — pode ser vítima.

Este artigo explica o que é ransomware, principais vetores de ataque, casos históricos relevantes, táticas atuais (incluindo Ransomware as a Service), e oferece um conjunto prático de ações técnicas, organizacionais e legais para reduzir risco, detectar cedo e reagir com eficiência.

O que é um ataque de ransomware?

Ransomware é um malware que impede o acesso a dados ou sistemas, normalmente por criptografia, e exige pagamento (frequentemente em criptomoedas) para desbloqueio. Existem duas categorias principais:

  • Crypto-ransomware: criptografa arquivos e exige a chave de decriptação.
  • Locker ransomware: bloqueia o acesso ao sistema/device sem necessariamente criptografar arquivos.

Definição rápida: ransomware é software malicioso que toma control do seu acesso e pede resgate.

Importante: ransomware não é apenas um “vírus” genérico; frequentemente entra por engenharia social (phishing), vulnerabilidades desatualizadas, ou extensões/integrações comprometidas.

Principais vetores de ataque

Conhecer como o ransomware entra ajuda a prevenir. Abaixo os vetores mais comuns:

Malware (trojans)

Ransomware frequentemente se disfarça como um ficheiro legítimo (trojan). Ao executar um anexo ou binário aparentemente inofensivo, o usuário permite que o atacante instale o código que criptografa dados ou abre portas administrativas.

Como se defender: evite executar ficheiros de origem desconhecida, use EDR com isolamento e bloqueio baseado em comportamento, aplique aplicação de lista branca onde possível.

Pop-ups e anúncios maliciosos

Pop-ups e banners enganadores podem redirecionar o usuário para páginas que exploram falhas do navegador ou forçam downloads maliciosos. Publicidade comprometida (malvertising) é uma fonte frequente.

Como se defender: bloqueadores de anúncios, navegadores atualizados, políticas de navegador corporativo e filtros de URL.

Anexos e links em email (phishing)

O vetor mais usado: emails que imitam remetentes confiáveis e induzem o destinatário a abrir anexos ou clicar links. Esses links podem forçar downloads ou coletar credenciais.

Como se defender: treinamento anti-phishing, análise de links em sandbox, DMARC/SPF/DKIM, e filtros de correio com detecção baseada em ML.

Mensagens de texto (SMiShing) e mensagens instantâneas

Links maliciosos via SMS, WhatsApp ou outras mensagens podem infectar dispositivos móveis e se propagar para contatos e sistemas corporativos.

Como se defender: conscientização do usuário, bloqueio de anexos desconhecidos em plataformas de comunicação corporativa, políticas de BYOD bem definidas.

Vetores de nuvem e extensões de navegador

Extensões maliciosas ou permissões excessivas a aplicações de terceiros podem conceder acesso a arquivos em nuvem, permitindo cifrar dados mesmo sem acesso direto aos servidores locais.

Como se defender: restringir permissões OAuth, auditar integrações de terceiros, aplicar policies de segurança em SaaS e backups independentes da conta cloud.

Acesso remoto desprotegido (RDP, VPN)

Credenciais fracas, falta de MFA ou portas RDP expostas permitem ataques diretos. Muitos ataques começam com comprometimento de credenciais e movimentação lateral.

Como se defender: bloquear RDP na borda, usar jump hosts, MFA obrigatório, PAM (Privileged Access Management) e monitoramento de sessões.

Exemplos históricos relevantes

WannaCry (2017)

WannaCry explorou uma vulnerabilidade no Windows (EternalBlue) e atingiu centenas de milhares de máquinas em dezenas de países. Ele combinou exploração worm-like com criptografia de arquivos. Estimativas públicas apontam que mais de 250.000 sistemas foram impactados. O ataque exigiu pagamentos em bitcoin e causou ampla interrupção.

Lição: vulnerabilidades conhecidas e patching lento aumentam risco de propagação massiva.

Ryuk

Ryuk é associado a ataques mais direcionados, frequentemente após os invasores obterem acesso inicial por phishing e moverem-se lateralmente. É conhecido por ser operado manualmente por atacantes que selecionam alvos de alto valor (big game hunting).

Lição: ataques dirigidos exigem defesas que detectem atividade anômala e bloqueiem movimentação lateral.

DarkSide e Ransomware-as-a-Service (RaaS)

DarkSide popularizou o modelo RaaS: grupos desenvolvem kits de ransomware e vendem/fornecem acesso a afiliados, compartilhando lucros. Esse modelo levou a profissionalização do crime e a golpes com negociações de resgate e infraestrutura de pagamento.

Lição: ataques podem ser orquestrados por organizações criminosas com divisão de funções (desenvolvedores, afiliados, serviços de negociação).

Quando as defesas fracassam — contraexemplos e limitações

  • Backups mal projetados: backups conectados à rede principal podem ser criptografados também.
  • Patching insuficiente: correções disponíveis não aplicadas permitem exploração em cadeia.
  • Falha humana: um colaborador bem treinado evita muitos ataques; sem treinamento, phishing funciona.
  • Decisões de pagamento: pagar o resgate nem sempre garante recuperação total e incentiva novos ataques.

Abordagens alternativas e complementares

  • Zero Trust: autenticação e autorização contínuas minimizam impacto de credenciais comprometidas.
  • Segmentação de rede: limita movimentação lateral e exposição de sistemas críticos.
  • Immutable backups (WORM / snapshots imutáveis): impedem alteração/exclusão por ransomware.
  • Threat Hunting ativo: busca proativa por sinais de comprometimento antes da execução do ransomware.

Mini-metodologia (5 etapas para reduzir risco)

  1. Avaliar: identificar ativos críticos, pontos de exposição e dependências.
  2. Proteger: políticas de controle de acesso, hardening, MFA e backups isolados.
  3. Detectar: EDR, SIEM e alertas baseados em comportamento.
  4. Responder: playbook de incidentes, isolamento e comunicação.
  5. Recuperar: restaurar a partir de backups verificados e atualizar lições aprendidas.

Playbook mínimo de resposta a incidente (execução imediata)

  1. Isolar o endpoint/sistema afetado da rede (desconectar fisicamente ou bloquear na switch).
  2. Acionar o time de resposta e o gestor responsável (CISO/IT manager).
  3. Preservar evidências: imagens de memória e logs antes de reiniciar.
  4. Identificar escopo: listar hosts afetados, métodos de entrada e extensões de ficheiros criptografados.
  5. Contenção: bloquear contas comprometidas e alterações de credenciais.
  6. Comunicação: notificar partes internas, clientes afetados e autoridades legais conforme necessário.
  7. Recuperação: restaurar de backups verificados; só voltar à operação normal após validação.
  8. Pós-morte: análise forense, atualização de controles e relatório de lições aprendidas.

Nota importante: pagar o resgate é uma decisão complexa — não garante recuperação e fomenta crimes. Considere implicações legais e comunicação com seguradoras e autoridades.

Critérios de aceitação para um plano de recuperação eficaz

  • Backups testados e verificados com RTO/RPO documentados.
  • Capacidade de isolar segmentos de rede em minutos.
  • Playbook com responsabilidades claras e contatos atualizados.
  • Logs centralizados por pelo menos 90 dias e ferramentas de detecção ativas.

Matriz de risco qualitativa (exemplo)

ProbabilidadeImpactoMitigação principal
AltaAltoSegmentação, MFA, backups imutáveis
MédiaAltoPatching, EDR, monitoramento
BaixaMédioTreinamento de usuários, políticas de acesso

Lista de verificação por função

  • CEO / Diretor executivo

    • Apoiar investimentos em segurança e continuidade.
    • Aprovar planos de resposta e comunicação externa.
  • CISO / Líder de Segurança

    • Conduzir avaliações de risco e priorizar ativos.
    • Validar backups e exercícios de recuperação.
    • Coordenar comunicação com autoridades e seguradoras.
  • Administrador de TI / Sysadmin

    • Aplicar patching, configurar backups e segmentação.
    • Implementar EDR e monitoramento de logs.
    • Gerenciar contas privilegiadas e rotinas de hardening.
  • Usuários / Colaboradores

    • Realizar treinamentos de phishing.
    • Reportar emails/sms suspeitos sem clicar em links.
    • Usar senhas fortes e MFA sempre que disponível.

Hardening e práticas técnicas recomendadas

  • Patching contínuo: priorizar correções CRÍTICAS e sistemas internet-facing.
  • Autenticação multifator (MFA): exigir para acesso remoto e contas privilegiadas.
  • Backup offline e testes regulares: 3-2-1 (3 cópias, 2 mídias, 1 offsite) e validação de restauração.
  • EDR/antivírus com investigação automatizada: bloquear comportamentos anômalos.
  • Restrições de macros: desabilitar macros por padrão no Office.
  • Redução de superfície: desligar serviços não usados e fechar portas abertas.
  • Monitoramento de integridade de arquivos e alertas de criptografia em massa.
  • Política de privilégio mínimo e segregação de duties.

Privacidade e conformidade (Notas GDPR / LGPD)

  • Se dados pessoais forem comprometidos, o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) exige que a autoridade de proteção de dados seja notificada em até 72 horas após identificar a violação, salvo exceções que reduzam o risco para titulares de dados.
  • No Brasil, a LGPD exige avaliação de notificações e medidas mitigatórias; comunicados aos titulares podem ser necessários dependendo do impacto.
  • Preserve evidências e registre comunicações para suportar obrigações legais e investigações.

Quando considerar pagar o resgate (e alternativas)

Pagar não é garantia de retorno dos dados e financia criminosos. Considere pagamento apenas após:

  • Avaliação legal e de seguro concluída.
  • Falha comprovada de backups e impossibilidade técnica de recuperação.
  • Entendimento dos riscos reputacionais e regulatórios.

Alternativas: restauração a partir de backups testados, reconstrução a partir de imagens limpas, mitigações provisórias e negociações com provedores de resposta a incidentes forenses.

Testes e critérios de aceitação (test cases)

  • Simular perda de serviço crítico e restaurar a partir de backup dentro do RTO definido.
  • Exercício de phishing para medir taxa de cliques e melhorar treinamento.
  • Teste de isolamento de segmento de rede em tempo real.
  • Verificação de logs centralizados e detecção de um sinal de criptografia massiva.

Cronograma de maturidade recomendado (roadmap resumido)

  1. Curto prazo (0–3 meses): backups isolados, MFA, políticas de e-mail e treinamento básico.
  2. Médio prazo (3–12 meses): EDR, segmentação de rede, testes de recuperação e playbooks.
  3. Longo prazo (12+ meses): Zero Trust, threat hunting, integração de segurança em ciclo de desenvolvimento.

Perguntas frequentes

Devo pagar o resgate se minha empresa for atacada?

Pagar não garante recuperação e incentiva crimes. Avalie backups, aconselhamento legal e seguradoras antes de considerar qualquer pagamento.

Como recuperar arquivos sem pagar?

Recupere a partir de backups offline validados. Se não houver backup, consulte especialistas forenses; às vezes chaves de decriptação públicas podem existir para variantes específicas.

Quanto tempo leva para detectar um ataque de ransomware?

Depende da maturidade da detecção; em ambientes com EDR e SIEM bem configurados pode ser detectado em minutos ou horas, em ambientes fracos pode demorar semanas.

Resumo e próximos passos

  • Ransomware é uma ameaçadora e crescente forma de crime que afeta empresas de todos os portes.
  • Práticas essenciais: backups imutáveis e testados, autenticação multifator, patching rápido, segmentação de rede e treinamento contínuo.
  • Prepare e treine um playbook de resposta a incidentes; execute exercícios regulares e atualize controles com base em lições aprendidas.

Importante: investir em prevenção e resiliência reduz custo total do risco e preserva continuidade de negócios.


Sobre o autor

David Wille tem mais de 7 anos de experiência corporativa em pesquisa de propriedade intelectual e é formado em ciência da computação. Possui interesses multidisciplinares e escreve sobre segurança e tecnologia aplicada a negócios.

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