Como criar um testamento vital com iLivingWill e recursos online

Quando minha irmã e eu tivemos que tomar a difícil decisão de retirar nossa mãe terminal do suporte de vida no ano passado, enfrentar a decisão ficou um pouco mais confortável porque já havíamos conversado sobre cenários com ela mais de um ano antes. O médico também nos ajudou nessa escolha.

Porém, havia opções de cuidados específicas que não discutimos e para as quais um testamento vital teria sido útil. Um novo app para iPad chamado iLivingWill e vários sites online que geram um testamento vital podem ser úteis para muitas pessoas.

Você pode criar um testamento vital em qualquer fase da vida, mesmo jovem e saudável. O mesmo vale para seus entes queridos. Normalmente adiamos esse tipo de decisão até enfrentar uma condição terminal ou uma emergência, mas aí pode ser tarde demais.

Um testamento vital permite que você — ou um procurador indicado — registre decisões detalhadas sobre tratamentos médicos, cuidados paliativos, doação de órgãos e desejos pós-morte. E, enquanto você estiver em plena capacidade mental, pode alterar o documento a qualquer momento.

O que é um testamento vital

Um testamento vital é um tipo de diretiva antecipada que documenta suas preferências sobre intervenções médicas (por exemplo, ressuscitação, ventilação, nutrição artificial) e cuidados de conforto. Em linhas simples: é um documento que diz ao seu médico e à sua família o que você deseja quando você não conseguir falar por si mesmo.

Termos rápidos:

• Testamento vital: documento com preferências sobre tratamentos médicos em fim de vida.
• Diretiva antecipada: termo genérico que inclui testamento vital e procuração para cuidados de saúde.
• Procuração para saúde: pessoa autorizada a tomar decisões médicas por você.
• POLST: conjunto de ordens médicas que reflete preferências em situações críticas (varia por jurisdição).

Importante: requisitos legais (assinaturas, testemunhas, reconhecimento em cartório) variam por país e por estado. Sempre confirme as regras locais com um advogado ou serviço jurídico confiável.

Por que criar cedo

• Evita decisões de última hora sob estresse.
• Dá clareza ao médico e tranquilidade à família.
• Permite ajustar preferências ao longo do tempo.

Nota: mesmo que você confie em parentes para decidir, documentar suas escolhas reduz conflitos e incertezas.

iLivingWill

iLivingWill (US$0,99) é o primeiro recurso do tipo que encontrei e, na minha opinião, estabelece um padrão prático para um testamento vital bem-feito.

O app tem um design limpo e um fluxo passo a passo para criar o documento. Ele cobre legalidades básicas, formas de registrar e proteger o documento, além das decisões mais comuns: respostas a eventos médicos (CPR, desfibrilação, intubação), medicamentos, nutrição artificial, cuidados espirituais e status de doador.

Pontos práticos observados:

• Você pode pré-visualizar o documento a qualquer momento.
• Há controle de tamanho de fonte para acessibilidade.
• Um leitor de texto para áudio está presente, embora tenha falhado no meu iPad.
• A navegação entre seções é por gestos (swipe) e cada seção é marcada quando concluída.

Ao concluir, é possível assinar no próprio app, enviar por e-mail ou imprimir via AirPrint. O app suporta múltiplos usuários no mesmo dispositivo, cada testamento recebendo um código de acesso.

Importante: o fato de o app gerar um documento não garante conformidade legal automática onde você mora. Verifique requisitos locais e, se necessário, solicite validação de um profissional jurídico.

Recursos online alternativos

Se você não tem iPad, há recursos gratuitos que seguem processo semelhante:

• Legacy Writer: orienta passo a passo para criar um documento personalizável, com opção de download ou envio por e-mail. Por uma taxa, é possível adicionar uma procuração para supervisão.
• US Legal Forms: oferece formulários conforme a legislação de cada estado e soluções DIY para documentação legal.

Verifique também sites governamentais e serviços jurídicos locais; muitos oferecem modelos oficiais e instruções atualizadas.

Mini-metodologia: como criar um testamento vital em 7 passos

1. Reflita sobre valores e preferências: qualidade de vida, tratamentos que aceita ou rejeita, cuidados espirituais.
2. Documente decisões iniciais: intervenções de emergência, suporte artificial, doação de órgãos.
3. Escolha um procurador de saúde: pessoa de confiança que respeite suas vontades.
4. Use um recurso confiável (app, site, advogado) para formatar o documento.
5. Reveja com um médico para garantir precisão do vocabulário clínico.
6. Assine e siga requisitos legais locais (testemunhas, reconhecimento).
7. Compartilhe cópias com seu procurador, familiares e equipe médica; mantenha arquivo acessível.

Checklist por função

Checklist para quem cria o testamento vital

• Liste preferências de intervenções (CPR, ventilação, alimentação por sonda).
• Defina objetivos de cuidado (sobrevivência máxima vs. conforto/paliativo).
• Nomeie um procurador de saúde e um substituto.
• Anote contatos de emergência e médico responsável.
• Salve cópias digital e impressa; atualize quando necessário.

Checklist para o procurador

• Leia o testamento e confirme entendimento por escrito.
• Converse com a família e o médico responsável.
• Tenha acesso às cópias e aos registros médicos.
• Saiba onde estão assinaturas e documentação legal.

Checklist para profissionais de saúde

• Verifique validade do documento conforme legislação local.
• Confirme se há POLST ou ordens médicas aplicáveis.
• Documente decisões e comunique a família.

Template rápido de cláusulas comuns

• Preferência sobre ressuscitação: “Não iniciar ressuscitação cardiopulmonar (NRCP) se ocorrer parada cardíaca, salvo disposição em contrário após avaliação clínica”.
• Ventilação mecânica: “Não desejar intubação prolongada se a condição for irreversível e houver baixa probabilidade de recuperação significativa”.
• Nutrição artificial: “Aceito administração temporária de nutrição por sonda em situações reversíveis; recuso em estado terminal sem expectativa de recuperação”.
• Doação de órgãos: “Autorizo/Não autorizo doação de órgãos e tecidos conforme legislação aplicável”.

Observação: as frases acima são modelos e devem ser adaptadas conforme sua situação e requisitos legais locais. Consulte um profissional.

Quando o testamento vital pode falhar

• Documento não encontrado ou inacessível no momento da emergência.
• Divergência entre o testamento e ordens médicas locais (por exemplo, POLST com status conflitante).
• Dúvidas sobre validade legal (assinaturas, testemunhas, data).
• Mudanças de vontade não atualizadas no documento.
• Interpretações médicas ambíguas sobre termos utilizados.

Mitigação: mantenha cópias em vários locais, registre a existência do documento no prontuário médico e reveja periodicamente.

Alternativas e complementos ao testamento vital

• Procuração para cuidados de saúde: dá poderes a uma pessoa para tomar decisões médicas em seu nome.
• POLST/ORDENS MÉDICAS: ordens que acompanham pacientes com risco improvável de recuperação; úteis em contexto hospitalar.
• Testamento tradicional: trata de patrimônio e herança, não substitui diretivas médicas.
• Planejamento de cuidados paliativos e planos de fim de vida com a equipe de saúde.

Combinar documentos (testamento vital + procuração) costuma ser a melhor prática.

Modelo mental para decidir o que incluir

Pense em três camadas:

1. Intervenções de emergência (sim/não/condicional).
2. Tratamentos prolongados com baixa chance de recuperação (aceitar/recusar).
3. Preferências de conforto e dignidade (paliativos, presença de familiares, espiritualidade).

Use esse mapa para priorizar escolhas e comunicar ao procurador.

Aspectos legais e de armazenamento

• Requisitos legais variam por país/estado: validar testemunhas, reconhecimento ou assinatura eletrônica.
• Registre onde estão as cópias: médico de família, procurador, cofre doméstico, serviços digitais seguros.
• Atualize sempre que sua condição de saúde, valores ou leis mudarem.

Nota: alguns sistemas de saúde aceitam documentos eletrônicos; confirme a aceitação e métodos de verificação.

Dicas práticas para compartilhar e revisar

• Marque uma reunião familiar para explicar as escolhas e o raciocínio.
• Leve o documento para consultas médicas e peça que seja incluído no prontuário.
• Estabeleça lembretes anuais para revisar o conteúdo.

Quando procurar ajuda jurídica

• Se você possui ativos significativos ou questões complexas de tutela.
• Se as leis locais exigem formatos específicos.
• Sempre que houver incerteza sobre validade ou execução.

Resumo

• Criar um testamento vital evita decisões ambíguas em momentos críticos.
• iLivingWill é uma ferramenta acessível para iPad; existem alternativas gratuitas online.
• Combine o testamento vital com uma procuração e atualize regularmente.
• Verifique requisitos legais locais e compartilhe o documento com procurador, família e médicos.

Por fim, conte-nos: você já tem um testamento vital ou usou algum desses serviços? Para mais recursos sobre planejamento digital e pós-vida, veja outros artigos relacionados.